29 outubro 2006

O microcrédito

O microcrédito trata-se um conceito recente que tem vindo a ser construído ao longo das últimas três décadas, espalhando-se por todo o mundo, moldando-se às várias culturas mas mantendo forte, o objectivo de erradicar a pobreza.

A história do microcrédito leva-nos ao Bangladesh, no ano de 1974, um ano avassalador em que a fome aliada à pobreza abraçou todo o país. Muhammad Yunus era então um professor universitário de economia, revoltado com as desigualdades do seu país e, principalmente com o facto das teorias por ele leccionadas dentro das salas de aula, em nada contribuírem para o abismo cada vez mais profundo em que se afundava a população.

Angustiado com estas dúvidas, o professor decide voltar a estudar, pondo de parte os livros dos grandes mestres e partindo rumo a aldeia onde havia nascido, Chitagong, para aprender com os seus habitantes o dia-a-dia da verdadeira luta contra a pobreza.

No seu livro “ O Banqueiro dos Pobres”, Yunus conta-nos a história de Sufia, que caracterizava a grande maioria da população do Bangladesh, Sufia Bengun tinha 20 anos, três filhos e sustentava a família com um lucro diário de 2 cêntimos de dólar, que obtinha fabricando tamboretes de bambu. Como, quase todos os pequenos empreendedores da aldeia, Sufia recebia um empréstimo para comprar a matéria-prima do seu trabalho, com taxas de juros que rondavam os 10% à semana. E em alguns casos, 10% ao dia, não conseguindo, apesar das longas horas de trabalho quebrar o ciclo de pobreza onde estava inserida.

Num impulso motivado mais pelo desespero de inverter a situação, do que propriamente pela vontade de criar um sistema que pudesse efectivamente caminhar para um desenvolvimento equilibrado da população do Bangladesh, Yunus emprestou 27 dólares a um grupo de 42 pessoas, em troca de um compromisso de reembolso, quando o grupo estivesse em condições de o fazer. Os 42 devedores saldaram o compromisso antecipando a melhor previsão do professor. Corria o mês de Junho de 1976, e esta foi a primeira operação de um empreendimento fantástico – o microcrédito – que desembocou na fundação do Banco Grameen – palavra que significa aldeia – empresa criada com o único objectivo de “pôr fim à pobreza, esse flagelo que humilha e denigre tudo o que o ser humano representa.”
[1]

Desde então, e até aos dias de hoje, o microcrédito ganhou vários adeptos, sendo considerado como uma das melhores estratégias de combate à pobreza, contornando de forma eficaz todo o sistema económico tradicional que apoia somente aqueles que podem oferecer garantias, e deixando de parte os mais carenciados. Mas para tal foi necessário percorrer um longo caminho, criar uma filosofia, estabelecer regras, celebrar princípios, e tomar decisões tão polémicas quanto arriscadas.

[1] YUNUS, Muhammad; O BANQUEIRO DOS POBRES; DIFEL; 2ª Edição, Tradução de Pedro Elói Duarte, Oeiras, Julho de 2002, 415 páginas.