07 dezembro 2006

Relatório do PNUD alerta para a escassez de água e a crise de saneamento

O Relatório Mundial do Desenvolvimento Humano, lançado a 9 de Novembro, na Cidade do Cabo, África do Sul, exorta a comunidade internacional a adoptar urgentemente um plano de acção, sob a liderança do G8, para resolver a crise da água e do saneamento, responsável pela morte de 2 milhões de crianças, todos os anos.
Numa grande parte do mundo em desenvolvimento, a água insalubre ameaça mais a segurança humana do que os conflitos violentos, afirma o Relatório do Programa das Nações Unidas para Desenvolvimento (PNUD), que este ano se intitula «Para Além da Escassez: Poder, Pobreza e a Crise Mundial da Água».
Todos os anos, 1,8 milhões de crianças morrem de diarreia – uma situação que poderia ser evitada dando a cada uma delas acesso a água potável e a latrinas, sublinha um comunicado emitido na Cidade do Cabo, na África do Sul.
Cerca de metade de todas as pessoas que vivem nos países em desenvolvimento sofrem, a um determinado momento, um problema de saúde devido à falta de acesso à água e ao saneamento.
Ademais, 443 milhões de dias de escolaridade são perdidos todos os anos em virtude de doenças de vector hídrico. Para além destes custos humanos, a crise da água e do saneamento trava o crescimento económico. A África Subsariana perde, desta forma, 5% do seu PIB anual – muito mais do que a ajuda recebida pela região.
Todavia, ao contrário das guerras e das catástrofes naturais, esta crise mundial não suscita uma acção internacional concertada. «Tal como a fome, é um flagelo silencioso que atinge os pobres e continua a ser tolerado por aqueles que possuem os recursos, as tecnologias e o poder político necessários para lhe pôr fim», sublinha o comunicado.
«Cabe aos governos nacionais elaborar planos e estratégias credíveis para resolver a crise da água e do saneamento. Mas precisamos também de um plano de acção mundial – que beneficie de um apoio activo por parte dos países do G8 – a fim de concertar todos os esforços internacionais esparsos tendo em vista mobilizar recursos e dinamizar a acção política, de modo que a questão da água e do saneamento seja colocada no cerne das prioridades e preocupações do desenvolvimento», declarou Kevin Watkins, redactor-chefe do Relatório.
O Relatório pede que seja estabelecido o direito fundamental de todo o ser humano a dispor de pelo menos 20 litros de água potável por dia. Enquanto um cidadão britânico ou americano lança quotidianamente 50 litros de água para os esgotos pelo mero facto de accionar o autoclismo, inúmeras pessoas pobres sobrevivem com menos de 5 litros de água poluída por dia, estimam os peritos.
Os autores exortam também os governos a consagrarem pelo menos 1% do PIB à água e ao saneamento que sofrem de um subfinanciamento crónico. As despesas públicas neste domínio são inferiores a 0,5% do PIB e irrisórias perante as despesas militares. Na Etiópia, por exemplo, o orçamento militar representa 10 vezes o orçamento atribuído à água e ao saneamento – e 47 vezes no Paquistão.