08 novembro 2006

Qual a sua “pegada ecológica”?

Pegada Ecológica constitui uma forma de medir o impacto humano na Terra. Este conceito, desenvolvido por Mathis Wackernagel e William Rees, autores do livro “Our Ecological Footprint - Reducing Human Impact on the Earth” (1996), exprime a área produtiva equivalente de terra e mar necessária para produzir os recursos utilizados e para assimilar os resíduos gerados por uma dada unidade de população. Pode ser calculada para um indivíduo, uma comunidade, um país ou mesmo para a população mundial. Dito de outra forma, a Pegada Ecológica avalia a extensão com que uma dada população se apropria do espaço biologicamente produtivo. Uma vez que as pessoas usam recursos de todas as partes do mundo, e afectam locais cada vez mais distantes com os seus resíduos, esse espaço é, geralmente, o somatório de uma série de pequenas áreas distribuídas por todo o planeta que, na sua totalidade, tem vindo a aumentar.
Para calcular a Pegada Ecológica, é necessário estimar o consumo de bens e serviços e a produção de resíduos da unidade de população em estudo. Esses bens e serviços incluem várias categorias, como os alimentos, o vestuário, o transporte, a energia, o lazer, a habitação, os produtos com origem na madeira (lenha, papel, mobiliário...), etc. Posteriormente, estima-se a área necessária à produção de cada item, dividindo a média anual de consumo desse item, pela média da sua produtividade. Cada uma dessas áreas é considerada equivalente a um tipo de área biologicamente produtiva e a sua soma constitui a Pegada Ecológica. As áreas biologicamente produtivas consideradas são as seguintes: área cultivada; área de pasto; área de floresta; área de recursos marinhos; área construída e área de floresta necessária para absorver as emissões de dióxido de carbono associadas ao consumo de combustíveis fósseis. De notar que nos estudos até aqui realizados, ainda não foi possível entrar em consideração com variáveis importantes como os consumos de água e a libertação de poluentes tóxicos por insuficiência de dados, pelo que os valores das Pegadas Ecológicas apresentados têm sido subestimados.

Relacionando a apropriação de espaço com a superfície biologicamente produtiva da Terra, a Pegada Ecológica clarifica os limites da expansão humana e dos seus níveis de consumo.
A Terra tem uma superfície de 51 biliões de hectares, dos quais 36,3 biliões são mar e 14,7 biliões são terra. Segundo dados do “Living Planet Report 2000” (
www.panda.org/livingplanet/lpr00), em 1996, existiam 12,6 biliões de hectares de terra biologicamente produtivos, distribuídos da seguinte forma: 1,3 biliões de hectares de área cultivada; 4,6 biliões de hectares de área de pasto; 3,3 biliões de hectares de área de floresta; 3,2 biliões de hectares de área de recursos marinhos; 0,2 biliões de hectares de área construída.

Dividindo a área produtiva pela população mundial, que em 1996 era de 5,7 biliões de habitantes, cada pessoa teria disponíveis, se os recursos fossem equitativamente distribuídos, 2,2 hectares de área para satisfação das suas necessidades de consumo e assimilação dos seus resíduos. Essa área seria ainda menor tomando em consideração o espaço necessário à vida dos cerca de 15 milhões de espécies que povoam o Planeta. De acordo com a Comissão Mundial para o Ambiente e Desenvolvimento, e com os autores do “Brundtland Report: Our Common Future” (1987), pelo menos 12% do espaço biologicamente produtivo deve ser preservado para a protecção da biodiversidade.

Com base no estudo “Ecological Footprints and Ecological Capacities of 152 Nations: The 1996 Update” (
www.rprogress.org/ef/LPR2000), em 1996, a Pegada Ecológica Mundial foi de 2,85 ha per capita (não considerando a área necessária às restantes espécies), o que excedeu em cerca de 30% o espaço biologicamente produtivo da natureza no mesmo ano. Esta situação é largamente atribuível ao consumo de quarta parte da população mundial, que utiliza cerca de 75% dos recursos globais disponíveis.

Recorrendo ainda à análise dos resultados do estudo “Ecological Footprints and Ecological Capacities of 152 Nations: The 1996 Update”, realizado com base em dados da “Food and Agriculture Organization” e de outras organizações das Nações Unidas, dos 152 países com mais de um milhão de habitantes, os 10 com maior Pegada Ecológica foram, respectivamente: Estados Unidos (10,3 ha/capita); Austrália (9 ha/capita); Canadá (7,7 ha/capita); Nova Zelândia (7,6 ha/capita); Islândia (7,4 ha/capita); Singapura (7,2 ha/capita); Noruega (6,2 ha/capita); Hong Kong (6,1 ha/capita); Finlândia (6,0 ha/capita) e Rússia (URSS, na altura) (6,0 ha /capita). Destes, os Estados Unidos, Singapura, Hong Kong e Rússia mostraram-se, de acordo com a sua biocapacidade, ou seja, capacidade produtiva potencial, incapazes de satisfazer as suas necessidades internas, apresentando assim um défice ecológico (considerando a responsabilidade pela preservação da biodiversidade de 12%: Défice Ecológico = Biocapacidade - Pegada Ecológica / 88%).

Os 10 países com a Pegada Ecológica per capita mais baixa foram o Peru (1,6 ha/capita); a Nigéria e as Filipinas (1,5 ha/capita); a Indonésia (1,4 ha/capita); a China e o Egipto (1,2 ha/capita); a Etiópia, a Índia e o Paquistão (0,8 ha/capita) e, finalmente, o Bangladesh (0,5 ha/capita). Destes, só o Peru e a Indonésia não apresentaram défice ecológico.

A Pegada Ecológica encontrada para Portugal foi de 5,0 ha/capita, integrando as seguintes componentes: 1,2 ha/capita de área cultivada; 0,7 ha/capita de área de pasto; 0,5 ha/capita de área de floresta; 0,2 ha/capita de área de recursos marinhos; 0,4 ha/capita de área construída; 2 ha/capita de área de floresta necessária para absorver as emissões de dióxido de carbono associadas ao consumo de combustíveis fósseis. Com uma biocapacidade de 2,2 ha/capita, o nosso país apresentou um défice ecológico de 3,4 ha/capita.

Existem algumas páginas que possibilitam uma estimativa da Pegada Ecológica individual, por exemplo, para cidadãos europeus, dos Estados Unidos e Austrália: