14 fevereiro 2007

Multiculturalismo e Interculturalidade

Nos últimos séculos assistiu-se a mudanças sem precedentes ao nível das migrações internacionais. As populações migram para melhorar a qualidade de vida, para fugir da guerra, de uma crise económica, da pobreza, da perseguição política, da seca e de outros cataclismos naturais. Migram para conseguir emprego, para estudar, para ter acesso a um sistema de saúde, etc,….
Os movimentos migratórios são mais intensos nas zonas com mais desigualdades regionais, naqueles onde áreas muito ricas dividem o espaço com outras muito pobres (por exemplo, EUA e México). Ocorrem também entre países que apresentam níveis de desenvolvimento muito díspares (por exemplo, Africa e Europa).
Contudo, não se pode fazer uma leitura de multiculturalismo apenas apoiada nas questões migratórias. Há também a questão das minorias nacionais que é um exemplo de que nacionais do mesmo país podem não conseguir viver num contexto multicultural de respeito e tolerância:
Por razões históricas e territoriais, o povo albanês encontra-se dividido por diversos Estados da ex-Jugoslávia mas foi no Kosovo que as dificuldades de integração foram maiores e onde as reivindicações históricas e nacionais do povo sérvio e albanês sobre a província deram origem a uma guerra civil dentro da Europa;
Em ambos os casos, tanto dos movimentos migratórios como das minorias nacionais, o sentimento de exclusão é comum e muitas vezes as políticas falham porque trabalham numa base meramente política sem fazerem uma análise essencialmente cultural destas populações e acabam por perpetuar a exclusão e o sentimento de revolta.
Um espaço multicultural é um espaço físico (país, região e até mesmo um local de trabalho, uma escola,…) onde diferentes culturas coexistem e interagem. Mas só isto não chega….
Porque é necessária mais do que uma co-existência pacífica de diferentes comunidades num espaço multicultural, tem de se falar também da interculturalidade. Muito mais do que a simples aceitação do “outro”, a verdadeira tolerância numa sociedade multicultural propõe o acolhimento do outro e a transformação de ambos com esse encontro. Uma cultura não evolui se não for através do contacto com outras culturas. Não há culturas melhores nem piores: se aceitarmos este princípio então, consideraremos que todas as culturas são igualmente dignas e merecedoras de respeito.
Esta interacção permite às minorias étnicas a oportunidade de expressar e de manter elementos distintivos da sua cultura, especialmente língua e religião, acreditando que indivíduos e grupos podem estar plenamente integrados numa sociedade sem perderem a sua especificidade e sem a maioria se sentir agredida na sua identidade. O risco encontra-se no monoculturalismo que impõe e “julga o outro” de forma unilateral e que rapidamente se transforma em “indiferença em relação ao outro”. Entre uma coisa e outra está a “missão intercultural” que aposta na relação “dar e receber” como único caminho para uma relação saudável entre os povos.
E aqui a escola tem um papel primordial na abordagem ao multiculturalismo: é sua obrigação educar para a tolerância, para a aceitação da diferença, para o desenvolvimento, para a convivência na diversidade e para a construção da solidariedade.
Há que repensar o papel da sociedade em geral neste contexto económico, social e político mais complexo, atravessado por desigualdades e exclusões dos mais variados tipos, nomeadamente as que se relacionam com a identidade e a diversidade. Deve-se falar da educação para os valores, para a paz, para a cidadania, para os direitos humanos e igualdade de oportunidades, para a tolerância e convivência, da educação anti-racista e anti-xenófoba, etc… É fundamental trabalhar os aspectos afectivos e emocionais dos educandos, para que a ideia do “outro”, do culturalmente “diferente” não seja associada às ideias de ameaça, perigo ou risco.
Cabe a cada um de nós, enquanto cidadãos, acrescentar algo a isto da tolerância, do respeito pelo outro, da partilha do espaço,… É importante que se reflicta e se adopte um comportamento socialmente responsável porque afinal o mundo é de todos e todos interagimos nele.