01 março 2007

Fórum Económico Mundial vs Fórum Social Mundial

É já rotina no início de cada ano. Empresários, políticos, líderes de opinião e figuras públicas acorrem à estância suíça de Davos para um “brain-storming” ao mais alto nível. Mas no Fórum Económico Mundial (FEM), que se realiza desde 1971, a tradição já não é o que era.

Activistas como os músicos Bono Vox (U2) e Peter Gabriel tornaram-se veteranos desta “cimeira do capitalismo mundial”, como dizem as hostes antiglobalização; as organizações não-governamentais têm lugar cativo entre os participantes; e até Lula da Silva, Presidente do Brasil, optou por privar com a elite de Davos e não pôr os pés no Fórum Social Mundial (FSM) – a cimeira antiglobalização que funciona como contrapeso a Davos e que terminou no dia 25 de Janeiro, em Nairobi (Quénia).

Dir-se-ia que aos poucos o “espírito de Porto Alegre” – a cidade brasileira onde nasceu o FSM – contagia Davos. Com as expectativas económicas em alta, as alterações climáticas e a segurança energética ocupam este ano o topo da agenda da cimeira. “É importante estarmos presentes”, disse ao Expresso Nigel Capbell, porta-voz da organização ambiental Greenpeace. “Lá, encontramo-nos cara a cara com os líderes das empresas que têm o poder real de fazer algo em relação a pressões ambientais como as alterações climáticas, a desflorestação, a pesca não sustentável, a engenharia genética, os lixos tóxicos e o desarmamento nuclear”, disse.

Desde que, em 2000, Davos abriu portas às organizações não governamentais, a sua agenda começou a competir com a do FSM em temáticas que, até então, eram bandeiras exclusivas do movimento antiglobalização. Paralelamente, a ecologia deixou de ser vista como uma preocupação de intelectuais e a pobreza como um dano colateral da criação da riqueza.

Mas visto a partir de Nairobi, Davos continua a ser um clube restrito, onde se decide o que é melhor para o resto do mundo. Após sete edições, o FSM continua apostado em levar a sua dinâmica aos quatro cantos do mundo. No ano passado, o evento foi policêntrico, realizando-se na Venezuela, no Mali e no Paquistão; este ano, privilegiou África. Mas faltou em Nairobi o que, por vezes, transborda em Davos – o mediatismo.

A afluência de estrelas de Hollywood atenuou a conotação capitalista de Davos, mas transformou o evento num “circo”. Em 2006, a imprensa interessou-se mais pela presença de Angelina Jolie e Brad Pitt do que pela sua causa. Já no ano anterior, o activismo de Sharon Stone deitara por terra toda e qualquer pretensão filantrópica de Davos. Quando o Presidente da Tanzânia disse que a malária mata por ano um milhão de pessoas, por falta de coisas tão básicas quanto mosquiteiros, a actriz levantou-se e doou 10 mil dólares. Em dez minutos, foi angariado mais de um milhão de dólares, mas só uma pequena parte foi de facto honrada.

Excertos do artigo Fórum de Davos “rendido” ao espírito de Porto Alegre, escrito por Margarida Mota e publicado no Expresso de 27/01/2007